A grife francesa tem sua história revista em exposição no Palais de Tokyo, em Paris
Por: Lee Carter
A maioria das pessoas conheceu a maison francesa Chloé graças às propagandas ultrafemininas e vaporosas, na década de 70. As imagens da jeune fille de pele úmida e beijada pelo sol, saltitando numa colina, ficaram indelevelmente marcadas na memória fashion coletiva. Talvez você saiba também que Karl Lagerfeld já foi o estilista da marca, muito antes de alcançar o estrelato na Chanel. Ou, quem sabe, se recorde dos sensacionais maiôs com estampa de abacaxi, desenhados por Stella McCartney quando ela tomou as rédeas da marca, na década de 90. Depois disso, a maior memória recente é o troca-troca de estilistas que se seguiu a Stella, incluindo Phoebe Philo (atualmente na Céline), Hannah MacGibbon e, finalmente, a jovem e talentosa britânica Clare Waight Keller, no comando atualmente. Lá se vão 60 anos desde a coleção de estreia da maison, apresentada no Le Café de Flore – cujo espírito de laissez faire influenciou fortemente a então recém-nascida marca. Um aniversário de 60 anos, evidentemente, é um bom motivo para comemorar. Por isso, no dia 29 de setembro, uma grande exposição, batizada Chloé Attitudes, será inaugurada no Palais de Tokyo, em Paris. Estarão em exibição 70 looks clássicos, representando todos os estilistas que passaram pela casa – nove, ao todo – e mostrando a força da marca que, nas mãos de Clare, vem retomando o posto de grife-desejo de quem entende de estilo.
Com o objetivo de abalar aquela ideia da garota Chloé como jovem boêmia de pés descalços, vestido diáfano de chiffon flutuando na brisa de verão, Judith Clark, escritora e historiadora de moda inglesa que assina a curadoria, pretende iluminar aspectos menos conhecidos do passado da maison. Dentre eles estão referências à escola Bauhaus, às ilustrações eróticas de Aubrey Beardsley e, evidentemente, aos exageros dos anos 1980 (nem mesmo a romântica Chloé permaneceu imune à febre das ombreiras). Há também fotografias inéditas feitas por gente do quilate de Helmut Newton e Guy Bourdin – este último contrabalançou a conhecida imagem hippie com fotos de inspiração dominatrix estampadas em páginas duplas. “As pessoas desconhecem e vão se surpreender com a vastidão do arquivo de desenhos”, diz Judith. “Karl Lagerfeld, por exemplo, costumava documentar seus croquis com referências ao mundo da arte, que deixava pregadas ao papel.”
A especialista mergulhou nos arquivos da marca e em suas memórias pessoais, num dedicado trabalho de curadoria e investigação sobre os 60 anos de história. “Eu me lembro da minha mãe vendo imagens de vestidos da grife no Jardin des Modes, na década de 70”, conta. “Para a exposição, muitas peças serão reunidas pela primeira vez”, diz Judith.
Exposições sobre moda são um fenômeno relativamente moderno. Mostras que se tornaram fenômeno de público, como Savage Beauty – retrospectiva de Alexander McQueen realizada no Costume Institute do Met, em Nova York –, comprovaram a popularidade do tema, reunindo filas e filas de uma mistura de fiéis devotos do mundo da moda e leigos no assunto. Mas, a despeito do clima festivo, fazer a curadoria de uma exposição de moda não é exatamente tarefa fácil. Os tecidos ficam gastos, frouxos e desbotados com o passar dos anos – e, com grande frequência, vão para o lixo. “Só é possível mostrar o que foi preservado”, lamenta Judith. “O início das décadas de 70 e 80 são meus períodos preferidos na história da Chloé, mas algumas peças icônicas simplesmente não existem mais. Por isso, escolhi uma estratégia temática, e não cronológica, para mostrar a força da marca.”
Fundada em 1952 por Gaby Aghion, uma mulher de origem egípcia, pequenina e sedutora, a Chloé surgiu como reação à rígida formalidade da moda feminina da época, e logo atraiu o apoio de almas avant-garde, como Brigitte Bardot e Maria Callas. Essencialmente, Gaby queria mudar a forma com que as mulheres se vestiam, libertando-as da tirania das cinturas apertadas e do totalitarismo da alta-costura, que ainda ditava as regras naqueles tempos. A criadora da Chloé costuma ser apontada como responsável pela invenção do prêt-à-porter – mas o título é atribuído a tantos estilistas que acaba gerando discussões inflamadas. Sendo assim, não vamos entrar nesse mérito.
A curadora continua: “Há outro aspecto subestimado em relação à Chloé: a inteligência irônica dos designs, seu aspecto fantasioso – e esse espírito permanece ainda hoje”. Judith conta que conheceu Gaby. “É uma mulher extremamente carismática e bem-humorada, mesmo aos 90 anos. Acho que isso também explica muito bem a escolha do Palais de Tokyo, um espaço totalmente contemporâneo, sem tradição em exposições de moda.”
Para completar as comemorações, a Chloé vai reeditar 16 peças clássicas na microcoleção Édition Anniversaire, para o verão de 2013. Elas incluem o vestido simples de algodão Embrun, desenhado por Gaby em 1960; o vestido violino de Lagerfeld, de 1983; a camiseta de abacaxi de Stella McCartney, de 2001; a bolsa Paddington, criada por Phoebe Philo em 2005 (uma das primeiras it bags da história recente); e o short e a capa de couro de Hannah MacGibbon, de 2009. Além da exposição, portanto, a história da marca deve sair às ruas.
Divulgação Harper's Bazaar setembro